Xangô é a Divindade que está assentada no pólo positivo ou irradiante da 4ª. Linha de Umbanda, que é a da Justiça Divina.
Como Orixá Universal, Xangô traz a Qualidade da Justiça Divina e a irradia o tempo todo na Criação para dar equilíbrio, estabilidade e harmonia a tudo e a todos. É o Orixá do equilíbrio, da estabilidade e da razão. Sustenta e ampara os seres que vivem o Sentido da Justiça de forma equilibrada.
Seu campo preferencial de atuação é a razão. Absorvendo as Irradiações de Pai Xangô, o ser é purificado em seus sentimentos e se torna racional, ajuizado e um ótimo equilibrador do meio em que vive e dos seres à sua volta.
Podemos ver manifestações dessa Qualidade Divina através da atuação dos Caboclos de Xangô, que têm procedimentos justos, retos e equilibrados.
Na Linha da Justiça, Pai Xangô forma um par puro com o Orixá Feminino Egunitá, pois ambos atuam pelo elemento Fogo.
Além disso, Xangô também polariza com Iansã (Trono Feminino da Lei), formando com Ela uma Linha Mista, uma vez que atuam por elementos diferentes: Xangô é o
Fogo e Iansã é o Ar que expande esse Fogo Divino. Isso acontece porque há uma ligação estreita entre Justiça e Lei e, portanto, também entre as atuações dos Orixás Regentes de cada uma dessas Linhas (Xangô e Egunitá na Linha da Justiça; Ogum e Iansã na Linha da Lei).
Xangô está em tudo que gera habilidade no trato das relações humanas ou nos governos, de um modo geral.
Xangô é a ideologia, a decisão, a vontade, a iniciativa. É a solidez, a organização, o trabalho, a discussão pela melhora, o progresso social e cultural, a voz do povo, o levante, a vontade de vencer. Também é o sentido de realeza, o espírito nobre das pessoas, o poder de liderança.
O aspecto da razão aparece bem destacado no sincretismo de Xangô com São Jerônimo, pois na imagem umbandista de São Jerônimo se vê a figura de um leão colocado ao lado do Santo, onde o leão simboliza a razão acima do instinto, pois Xangô nos chama à razão. E aqui há outro aspecto interessante: essa imagem umbandista apresenta São Jerônimo segurando uma pedra na mão (que seria a pedra de raio de Xangô) e tendo no colo os Dez Mandamentos e um livro onde está escrito: “Juízo Final”. Essa presença dos Dez Mandamentos na imagem associa Xangô a Moisés, pois foi Moisés quem recebeu as Tábuas da Lei, nas quais os Dez Mandamentos teriam sido escritos a fogo pelas mãos de Deus, segundo a versão católica. Vale lembrar que na imagem católica de São Jerônimo este aparece segurando apenas a Bíblia, pois São Jerônimo traduziu a Bíblia para o latim, de modo que os leigos pudessem entendê-la. Já na imagem umbandista de São Jerônimo, está o livro escrito “Juízo Final”, livro que seria “a Bíblia” de Xangô, uma referência direta à Justiça Divina que este Orixá representa.
Para Xangô, a Justiça está acima de tudo e sem ela nenhuma conquista vale a pena: o respeito pelo rei é mais importante que o medo. É o protetor dos juízes e operadores do Direito em geral.
Invocamos Pai Xangô para devolver o equilíbrio e a razão aos seres exageradamente emocionados e desequilibrados. Também para clamar pela Justiça Divina, visando ao corte de demandas cármicas, de magias negras etc., para recuperamos o equilíbrio e a saúde espiritual, mental, emocional e física. Além disso, tudo o que se refere a estudos, a disputas judiciais, a contratos e a documentos “trancados” pertence ao campo de atuação de Pai Xangô.
Quando pedimos a intervenção da Justiça Divina é preciso lembrar que ela vai atuar em primeiro lugar em nós mesmos, verificando o quanto temos sido justos com a nossa própria vida e com os nossos semelhantes. A balança da Justiça pesa os dois lados de uma questão. E a machadinha dupla de Xangô corta tudo que não esteja de acordo com a Justiça Divina, para só então trazer o equilíbrio, a razão e a estabilidade, sempre de acordo com a nossa necessidade e o nosso merecimento.
Na Umbanda, temos Pai Xangô Maior, que é o Trono Masculino da Justiça, integrante da Coroa Planetária. E temos os Xangôs da Pedra Branca, da Pedra Preta, das Sete Pedreiras, das Sete Montanhas etc., que regem imensas Linhas de Trabalho, ação e reação, como os Caboclos da Pedra Branca, Caboclos da Pedra Preta, Caboclos do Fogo. Esses “Xangôs” são Orixás Intermediadores e regem subníveis vibratórios ou pólos cruzados por muitas correntes eletromagnéticas, onde atuam como aplicadores dos Mistérios Maiores, mas já em pólos localizados em subníveis vibratórios.
Xangô é associado aos números 3, 6 e 12, bem como ao Sol e ao planeta Júpiter.
Seu primeiro elemento de atuação é o Fogo (que aquece, purifica, sustenta e acalenta) e o seu segundo elemento é o Ar (que expande o Fogo).
História- Xangô na África
Xangô é bastante cultuado na região de Tapá ou Nupê, a terra de origem de sua família materna, segundo algumas versões históricas.
Xangô gosta dos desafios, que aparecem nas saudações dos seus devotos, na África. Porém, o desafio é feito sempre para ratificar o poder de Xangô.
A imagem de poder está sempre associada a Xangô. O poder real, por exemplo, lhe é devido por se tornar o quarto Alafim (rei) de Òyó, a capital política dos Nagôs-Yorubás, cidade mais importante da Nigéria. Xangô destronou o próprio meio-irmão, Dadá-Ajaká, com um golpe militar. A personalidade paciente e tolerante do irmão desagradavam Xangô e também o povo de Òyó, que o apoiou como o seu grande rei, até hoje lembrado.É preciso observar que tudo se passou numa sociedade tribal que vivia em constantes guerras e onde o rei precisava ser guerreiro, decidido e destemido. E Xangô é o rei que não aceita contestação, pois todos sabem de seus méritos e reconhecem que seu poder é merecido.
O trono de Òyó já pertencia a Xangô por direito, pois foi seu pai, Oranian, o fundador do reino. Xangô só fez apressar sua ascensão e foi o grande Alafim de Òyó porque tomava as decisões mais acertadas e sábias e demonstrou, acima de tudo, sua capacidade para o comando e um senso de justiça muito apurado. Suas medidas, embora impostas, eram sempre justas. Era um rei amado pelo povo, pois nos momentos de tensão respondia com eficiência e também assumia a postura de um pai. Muitas lendas destacam seu destemor e senso de justiça, sempre voltados para o bem coletivo.
Xangô é o irmão mais jovem de Dadá-Ajaká e também de Obaluayê. Contudo, mais do que os vínculos de parentesco, a ligação entre Xangô e Obaluayê vem da sua origem comum em Tapá, onde Obaluayê era mais antigo que Xangô. Por respeito ao mais velho, em alguns lugares Obaluayê recebe oferendas na véspera das celebrações para Xangô. Essa irmandade com Obaluayê vai explicar os mitos que dizem que Xangô tem aversão à doença, à morte e aos eguns e que manda seus filhos para Obaluayê e Omolu quando estão doentes ou para morrer: é que Obaluayê e Omolu regem o campo santo e são Orixás Curadores, sendo Obaluayê também o Senhor das Passagens.
Não se pode falar de Xangô sem falar de poder.
Xangô expressa a autoridade dos grandes governantes e também detém o poder mágico sobre o mais perigoso de todos os elementos da natureza: o fogo. Seu poder mágico reside no raio, o fogo que corta o céu e destrói na Terra, mas que transforma, protege e ilumina o caminho. O fogo é a grande arma de Xangô e serve inclusive para castigar os que não honram seu nome; daí a crença de que alguém que teve a casa atingida por um raio está sendo castigado por Xangô. Tudo é questão de interpretação: o fogo de Xangô e as suas pedras de raio removem os desequilíbrios localizados, para trazer o equilíbrio do todo ou o bem maior. Não se trata de castigo, mas da distribuição de Justiça e de retribuição. Diz um ditado popular: “quem deve paga e quem merece recebe”.
Tudo o que se relaciona com Xangô lembra realeza: suas vestes, sua riqueza, sua forma de gerir o poder. A cor vermelha, por exemplo, sempre esteve ligada à nobreza, só os grandes reis pisavam sobre o tapete vermelho. E Xangô pisa sobre o fogo, o vermelho original, o seu tapete.
Dizem as lendas que Xangô era um homem bonito e vaidoso. Conquistava as mulheres, só com o seu “olhar de fogo”. Iansã foi sua primeira esposa e a única que o acompanhou até o fim da vida. Oxum foi a segunda esposa e a mais amada.
A terceira foi Obá, que amou e não foi amada, sendo capaz de “cortar a orelha esquerda” por amor ao seu rei. Tudo isso para dizer que os Orixás se interrelacionam, atuam de forma conjunta e se complementam.
O símbolo mais tradicional de Xangô é o oxé, um machado de duas lâminas, que lembra o (símbolo) de Zeus, em Creta. Esse machado representaria um personagem carregando o fogo sobre a cabeça. Mas também lembra a cerimônia chamada ajere, na qual os iniciados de Xangô carregam na cabeça uma vasilha cheia de furos, dentro da qual queima um fogo vivo; e ainda outra cerimônia, chamada àkàrà, durante a qual engolem mechas de algodão embebidas em azeite de dendê em combustão. Tudo isso remete à lenda segundo a qual Xangô tinha o poder de cuspir fogo, graças a um talismã que Iansã lhe trouxe do território Bariba.
Esse “talismã” de Iansã seria o elemento Ar, que Ela rege, e que expande o fogo.
Em algumas situações, além do oxé, Xangô também usa um làbà, uma bolsa grande de couro ornamentado, onde guarda seus èdùn àrà, que lança sobre a terra durante as tempestades. Os èdùn àrà são pedras neolíticas em forma de machado, as pedras de raio consideradas emanações de Xangô, e são colocados sobre um pilão de madeira esculpida (odó) consagrado a Xangô. Outra vez a referência ao fogo e agora às pedras, fazendo lembrar a atuação contundente de Xangô: o fogo que queima e destrói, mas que acalenta e depois traz a razão, o equilíbrio e uma estabilidade firme como a das pedras, dando sustentação a tudo e a todos.
Em sua dança, chamada alujá, Xangô brande orgulhosamente seu oxé (machado). Assim que a cadência se acelera, ele faz um gesto de quem vai pegar, num làbá imaginário (làbá é a sua bolsa de couro), suas pedras de raio, para lançá-las sobre a terra.
Suas danças são acompanhadas por um tambor em forma de ampulheta (bàtá), que é pendurado no pescoço dos tocadores por uma tira de couro. Seus tocadores, os olúbatá, batem com uma tira de couro no lado menor do tambor para fazer vibrar o instrumento, e com a mão fazem pressões mais ou menos fortes do outro lado, para obter os tons da língua yorubá.
No Recife, o nome Xangô designa o conjunto de cultos africanos.
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