Ogum


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Pai Ogum é a Divindade que está assentada no pólo positivo (irradiante) da Linha da Lei. Representa a Ordenação Divina, o Governo da Lei Maior em toda a Criação.


Suas Irradiações contínuas amparam e sustentam aqueles que vivem dentro da Lei e da Ordem Divinas e também socorrem aos que necessitam desse amparo.

Ogum é a Lei, cujo símbolo é a espada, que por sua vez representa o caminho reto, a retidão de caráter, a honra, a honestidade. Perante a Lei não existe “mais ou menos”, não se pode ser “mais ou menos honesto”: ou se está no caminho reto, respeitando a Lei Divina, a si mesmo e ao próximo, ou não se está. Por isso se diz que os filhos de Ogum são taxativos: não hesitam em “comprar batalhas” para defender os amigos e aqueles que agem com respeito à Lei de Deus e ao próximo, mas se afastam dos que agem com desonestidade e deslealdade.

Ogum é o Senhor dos caminhos e realiza a abertura de caminhos, a ordenação, o afastamento da desordem e do caos, o corte das atuações negativas, mas tudo a partir do equilíbrio íntimo dos seres perante a Lei Divina. A primeira “batalha” que Pai Ogum nos ensina a realizar é vencer os vícios e a desordem interna para que, uma vez equilibrados, possamos atrair situações e relacionamentos ordenados, livres da desordem que nasce do desrespeito à Lei Maior e à Justiça Divina.

Lei e Justiça são interligadas, não se pode obter o amparo da Justiça Divina sem viver em obediência às Leis da Criação. O dragão subjugado por São Jorge e por São Miguel Arcanjo, que sincretizam com Ogum, representa exatamente o trabalho pela vitória sobre as nossas trevas interiores. O dragão é o símbolo da maldade, dos vícios, das negatividades, do ego exacerbado, da vaidade extrema, da ganância etc. Vencendo “o dragão”, sob o amparo de Ogum, nos habilitamos a atrair situações favoráveis, sob o amparo da Lei. Porque a Lei atua sem cessar, irradiando-se para toda a Criação. Sintonizados com a Lei, alcançamos o amparo da Lei e da Justiça do Criador. Então, os inimigos terão olhos, mãos, pés e armas, mas não conseguirão nos enxergar, não poderão nos tocar e nem nos alcançar ou ferir, como diz um ponto cantado.

Seu primeiro elemento de atuação é o Ar e o 2º. Elemento é o Fogo.

Na Linha pura da Lei Ogum faz par com Yansã, ambos atuando pelo elemento Ar.  

Também faz par com Egunitá, a Mãe do Fogo e da Justiça, aqui formando com Ela uma Linha polarizada ou mista Lei/Justiça, pelos elementos Ar/Fogo.

Nos elementos, Ogum é o ar que refresca e a brisa que acalenta.

Na Lei, Ogum é o princípio ordenador inquebrantável.

Na Criação Divina, Ogum é a defesa de tudo o que foi criado, é a defesa da vida.

Na Irradiação da Lei, Ogum é passivo, pois seu magnetismo irradia-se em ondas retas, em corrente contínua, e seu núcleo magnético gira para a direita (sentido horário).

Seu Fator Ordenador nos ajuda a vencer nossas trevas e bloqueios interiores (as verdadeiras demandas) e nos protege dos obstáculos externos, quando vivemos de acordo com os ditames da Lei Divina.

Ogum é a Lei, é a via reta. É associado a Marte e ao número 7.

Na Bahia Ogum sincretiza com Santo Antonio de Pádua. Nos demais Estados, em geral é sincretizado com São Jorge e celebrado em 23 de abril.

A respeito do sincretismo de Ogum com São Jorge, FERNANDO FERNANDES, no excelente artigo “Astrologia e Mitos Religiosos”, comenta: “O simbolismo, aliás, não poderia ser mais adequado: São Jorge veste uma armadura de guerra (a proteção necessária para atuar em ambientes inferiores) e monta um cavalo branco (as forças da matéria e o lado animal da personalidade, já purificados - por isso a cor branca - e colocados a serviço de desígnios elevados). Utiliza a lança e a espada (um símbolo do direcionamento da energia) e consegue vencer o dragão (as forças das trevas).”

Em seguida, o referido autor fala sobre características de Ogum na Umbanda e no Candomblé e sua associação ao planeta Marte: ”A espada está ligada ao Orixá de três formas: por ser guerreiro e caçador, Ogum rege as armas em geral; por ser ferreiro, é fabricante de objetos de metal; e, finalmente, é o orixá regente do ferro, matéria-prima para a maioria das armas. Como símbolo, a espada representa a energia mobilizada e direcionada para cortar o avanço do mal. Basta lembrar outra lenda, criada num ambiente bem diferente do que estamos tratando: a história céltica do Rei Artur que, munido da espada mágica Excalibur e sob a orientação de um iniciado, o Mago Merlin, combate as forças malignas acionadas por temíveis feiticeiros. Excalibur é o instrumento do combate da magia branca contra a magia negra. A espada de Ogum tem o mesmo significado.

Cabe observar também que o ferro é o elemento químico essencial para a formação dos glóbulos vermelhos. Da mesma forma como sua carência torna o indivíduo anêmico, a carência da raiz energética de Ogum cria uma espécie de anemia espiritual, ou seja, uma falta de coragem e de disposição para lutar pelo próprio desenvolvimento. É por causa dessa função revitalizadora que Ogum é apresentado nos mitos africanos como o orixá que vem na frente, o pioneiro na tarefa de descer à Terra e acordar os homens. Trata-se, evidentemente, de uma função típica de Áries e Marte.

(...) Ogum muitas vezes é invocado como se fosse uma espécie de guarda-costas celeste, um orixá que, se devidamente agradado, tomará partido em favor do filho de fé e voltará sua fúria contra os inimigos. (...) As concepções mais elaboradas, entretanto, não vêem o orixá como um ser a serviço dos interesses do homem, nem disposto a tomar partido em seus conflitos.

Em essência, as lutas de Ogum processam-se dentro da própria alma, que traz simultaneamente o dragão e a serpente das tendências inferiores assim como o germe da Divindade. Invocar Ogum significa ativar as energias vitais que estão adormecidas na alma, despertar a parcela divina presente em cada ser humano e mobilizar a força necessária para avançar.”

Em seguida, ele comenta o ponto cantado que diz: “Cavaleiro supremo/mora dentro da lua /Sua bandeira divina/ é o manto da Virgem pura”, acrescentando: “A lenda de São Jorge, que não tem qualquer origem no culto dos orixás, mas sim no Cristianismo Popular, atribui-lhe o domínio da Lua, onde ele estaria em permanente combate com o dragão. É interessante notar que o símbolo da Lua, do ponto de vista astrológico, não é o desenho da Lua Cheia, mas do Crescente, que é formado por dois semi-círculos. Enquanto o círculo - o Sol - representa o espírito enquanto instância permanente e perfeita, o semicírculo é a alma, ou seja, o espírito ainda submetido às experiências da evolução, aprisionado nas sombras da própria ignorância e no vendaval das paixões ainda não dominadas. A Lua não tem brilho próprio, apenas refletindo a luz do Sol. Da mesma forma, para tomar de empréstimo uma concepção do pensamento hinduísta, a alma que perambula nas experiências de aprendizagem expressa apenas um reflexo provisório de sua verdadeira identidade, que só brilhará de forma pura quando o espírito transcender o ciclo das reencarnações e alcançar os planos mais elevados da absoluta ausência de forma, no mental superior.

Há um ditado do Catolicismo Popular que afirma que Maria é o atalho para Jesus. Da mesma maneira, muitos astrólogos medievais viam a Lua como um caminho para o Sol, assim como, na concepção hinduísta, a vida sob o domínio da emoção e dos sentimentos é a etapa necessária para a vida no plano da criação pura. Voltando aos astrólogos da Idade Média, era comum em textos da época a referência ao mundo sublunar para falar da mutável e inconstante realidade terrena, em contraste com a atemporalidade da perfeição espiritual simbolizada pelo Sol. Em todas as religiões antigas, a Lua e o Sol constituem um casal divino, cujo melhor exemplo é o mito de Ísis e Osíris no Egito. No sincretismo afro-brasileiro, a associação é com Iemanjá e Oxalá, identificados, aliás, com Nossa Senhora e Jesus Cristo. Mas por que razão Ogum, orixá de conotação nitidamente masculina, assim como São Jorge, santo militar e pertencente a um universo dominado pelos homens, surgem tão freqüentemente relacionados à Lua e aos orixás femininos das águas, como Iemanjá e Oxum?

Há, pelo menos, duas explicações possíveis: em primeiro lugar, as demandas que Ogum enfrenta pertencem todas ao domínio das paixões inferiores, como o ódio, a inveja, o ciúme e o egoísmo.

A Lua, cuja permanente mudança de fases bem representa a instabilidade da alma humana, é o campo de batalha onde os instintos precisam ser vencidos para que brilhe a natureza solar. Em segundo lugar, podemos lembrar o princípio da complementaridade dos opostos: masculino e feminino são polaridades que não podem existir de forma exclusiva, sem a complementaridade do outro pólo.

Ogum, que carrega consigo tantas qualidades positivamente masculinas, como a força, a coragem, a energia do fogo e a carga de agressividade necessária para qualquer realização, precisa do tempero da receptividade, da doçura, da paciência e da devoção, atributos femininos dos orixás das águas. Sem esse tempero, o resultado é desequilíbrio.

Os mitos africanos, ao mostrarem um Ogum guerreiro, violento, destruidor e, ao mesmo tempo, incapaz de compreender a alma feminina (ele perde, sucessivamente, suas esposas para Xangô), não estão falando verdadeiramente do orixá, mas de sua manifestação imperfeita e desequilibrada no próprio ser humano. Na medida em que as qualidades precisam ser integradas e harmonizadas, os conflitos míticos entre os orixás dramatizam exatamente a luta por essa integração interior, na busca da totalidade psíquica.

O Ogum do sincretismo afro-brasileiro, que trabalha harmoniosamente associado a Oxum e Iemanjá, como demonstram os pontos, já expressa, pois, uma concepção mais integrativa do que aquela presente nas lendas iorubanas.

O ponto atribui uma característica feminina à bandeira de São Jorge: não é mais o estandarte de guerra, mas o próprio manto da Virgem.

Em todos os pontos em que Ogum aparece associado ao princípio feminino, seja sob a forma da Virgem Maria, de Iemanjá ou de Oxum, o sentido é sempre o da força dirigida pela sabedoria, a energia de luta colocada a serviço da misericórdia. Trata-se de um belo simbolismo que reúne elementos das tradições cristã e iorubana.” (Material extraído do site: www.constelar.com.br/revista/ediçao37/jorge4.htm)

História
No Candomblé, Ogum é o grande general, marechal de todas as lutas, o grande guardião, o pai rígido e severo, mas apaixonado e compreensivo. É a franqueza, a decisão, a convicção, a certeza. É o empilhamento de metais, a bateria que gera a energia, a pilha. É a própria energia, vibrante, incontrolável, devastador, é a vida em sua plenitude.

Ogum também está presente nas construções, nas edificações, no cimento que vai unir tijolos e construir casas. É a muralha, o obstáculo difícil de ser vencido. É o amianto, o aço, o ferro, a bauxita, o manganês, o carvão mineral, a prata, o ouro maciço, o diamante em estado bruto, o zinco, o cobre, o alumínio, o parafuso, o prego, a mola, a viga, a estrutura, o concreto, a dureza, a firmeza. É também a lapidação, o aparelho cirúrgico, o aparelho dentário, o próprio dente. É o ato de cortar, morder, devorar.

Como Orixá, Ogum é o Senhor do ferro, dos ferreiros e de todos aqueles que utilizam esse metal.

Ogum é filho de Odudua com Yemanjá e irmão de Exu e Oxóssi. Era um caçador tranqüilo, calmo, pacato, bom filho, bom irmão, atencioso e trabalhador. Provia sua casa e família, pois Exu gostava de viajar pelo mundo, enquanto Oxóssi era mais descansado e contemplativo. Ogum cuidava da caça, dos consertos etc. Mas dentro de seu coração existia um enorme desejo de “ganhar o mundo”.

Num belo dia, ao voltar de uma caçada, viu sua família ameaçada por guerreiros de terras distantes. Ao ver a casa em chamas e seus entes queridos clamando por socorro, Ogum tomou-se de ira e, sozinho, arrasou os agressores, não deixando um só de pé. Daí por diante, Ogum iniciou Oxóssi nas artes da caça, mostrou-lhe os caminhos e trilhas da floresta e lhe disse: - “Sempre que estiveres em perigo, pense em mim. De onde eu estiver, voltarei para defendê-lo”. Em seguida, aproximou-se de Yemanjá e se despediu: - “Mãe, eu preciso ir. Preciso vencer e conquistar. Está no meu sangue, essa é a minha vontade”. Partiu e se tornou o maior guerreiro do mundo. Vencia todos os exércitos.

Ogum  se tornou a vitória, a força da conquista. Tornou-se Rei de Ifé, quando Odudua (fundador de Ifé) ficou cego. Brigou com reinos vizinhos a Ifé, aumentando cada vez mais o seu reinado. Dominou as cidades de Ará e de Irê, passando a usar o título de Onirê (Rei de Irê).

Ogum é uma das Divindades yorubanas mais conhecidas, cultuadas e temidas. Às vezes, é até mais temido do que Exu, sobre o qual tem total domínio. Sem a permissão e a proteção de Ogum, nenhuma atividade seria proveitosa.

Ogum é o dono do obé (faca). Divindades mais antigas, originárias de países vizinhos, mesmo que assimiladas pelos Nagôs-Yorubás, não aceitavam de bom grado a primazia que Odudua concedeu a Ogum. Dentro desse contexto, essas diferenças deram origem a “conflitos” entre Nanã e Ogum, isto porque Nanã, o mais antigo Orixá da Nação de Daomé, não aceita o comando de Ogum. Por isso, nenhum animal oferecido a Nanã poderia ser cortado com o obé (faca) de metal, e sim com o de madeira.

A principal insígnia de Ogum é a espada, que Ele empunha com ar marcial quando, manifestado, dança no Candomblé. Nesta dança, ao deparar com outro Orixá que também esteja empunhando uma espada, Ogum trança armas com ele e as lâminas se entrechocam, ritmadas (o que está relacionado com o que é conhecido como pírrica, ou seja, a dança militar na qual seus executantes apresentam-se armados).    

As armas mágicas de Ogum são a espada de São Jorge e a lança de Ogum, liliáceas da África Equatorial, aclimatadas no Brasil. O nome espada de São Jorge se deve à forma da folha carnosa, que lembra uma larga e longa lâmina de arma branca, com dois gumes e o ápice acuminado. Costuma ser plantada em vasos, jardineiras ou canteiros, em residências ou à entrada de casas comerciais, como espada capaz de defender dos malefícios. Nos terreiros, a espada de São Jorge é brandida como veículo de passes ou para afastar os maus espíritos. É uma das plantas usadas em banhos de proteção. Serve para sinais cabalísticos traçados no ar, durante consultas ou cerimônias; é usada inclusive na sagração dos noviços (como acontecia com os reis e cavaleiros medievais).

Na lança de Ogum, conforme o próprio nome indica, a folha carnosa é cilíndrica e pontiaguda, como uma lança. Suas atribuições rituais e poderes mágicos têm semelhança com os da espada de São Jorge.

Outra planta ligada a Ogum é o dendê ou dendezeiro, uma palmeira africana aclimatada no Brasil. Ogum é representado pelas franjas de folhas desfiadas dessa palmeira: o mariwó. Além de insígnia do Orixá, o mariwó é também proteção e defesa: dependurado sobre portas e janelas ou à entrada dos caminhos, afasta bruxedos e influências maléficas.

Na Bahia, Ogum é sincretizado com Santo Antônio, capitão do exército brasileiro. Sua espada e seu uniforme de gala como capitão, doados por uma beata, foram conservados pelos Franciscanos da Bahia, segundo Pierre Verger, que na Igreja fotografou o sabre e o fardamento do Santo. Santo Antônio, que “sentou praça” no Forte da Barra em fins do século XVI, como simples soldado, foi promovido a capitão em 1705 e a major durante a última guerra mundial. Debret atribuiu ao Santo casamenteiro o posto mais elevado da hierarquia militar, como "marechal dos exércitos do rei e comandante das Ordens de Cristo, na Bahia."


                           

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