Obaluaye



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OBALUAYÊ
  
Obaluayê é a Divindade que está assentada no pólo positivo ou irradiante da Linha da Evolução, que é a sexta Linha de Umbanda. É o Trono Masculino da Evolução, que representa e irradia a Vibração Divina que promove a Evolução contínua de todos os seres e elementos da Criação.
 Como Orixá Universal, Obaluayê irradia, o tempo todo, Sagradas Energias que nos fazem dar um passo à frente; inclusive transmutando ou modificando de forma positiva todo e qualquer sentimento, pensamento ou energia contrária à nossa evolução. Essa atuação se dá por meio da luz violeta, essencialmente transmutadora, a freqüência mais alta de todas as cores do arco-íris. Por trás da simplicidade com que o Divino Pai Se manifesta entre nós, está presente “a chama violeta”, preciosa e Divina.
Muito associam Obaluayê apenas à idéia do Orixá Curador, “o Médico Sagrado da Umbanda”, que Ele realmente é. Mas Obaluayê representa mais que isto: Ele é o Senhor das Passagens de um plano para outro, de uma dimensão para outra, de um estado ou condição para outra, e mesmo do espírito para a carne e vice-versa, pois atua diretamente no processo reencarnatório. É um Trono Divino que cuida da evolução dos seres, das criaturas e das espécies, por meio da irradiação dos Fatores Transmutador e Evolucionista.
O Fator Transmutador de Pai Obaluayê tem por função transmutar não apenas uma situação particular da nossa vida, como também a de transmutar a ação dos outros Fatores: é a Transmutação Divina atuante em toda a Criação. Transmutar significa transformar o negativo em positivo. Já o seu Fator Evolucionista ou Evolutivo tem por função criar as condições necessárias para a evolução dos seres, correspondendo, portanto, à Presença da Evolução atuante na Criação.
Na Umbanda, Obaluayê é geralmente sincretizado com São Roque e com São Lázaro. Em poucas regiões do país seu sincretismo é com São Sebastião.
São Roque, celebrado em 16 de agosto, é o santo católico protetor contra a peste e também o padroeiro dos inválidos e dos cirurgiões. Sua imagem mostra que tem ferimentos nas pernas; ao seu lado aparece um cachorro. Por sua vez, São Lázaro é um santo católico muito invocado para a cura de dores morais e físicas, sendo festejado em 17 de dezembro. Sua imagem mostra o santo coberto de feridas e um cachorro que lambe essas feridas. Observa-se que o cachorro, que aparece ao lado dos dois santos, é um animal que também entra no Mistério de Obaluayê e de Omolu.
O nome Obaluayê significa: “o Rei e Senhor da Terra” (Oba=Rei; Lu= Senhor; Ayê= Terra). Obaluayê é o Rei e Senhor do elemento terra e da matéria ou do mundo material. É conhecido como o Rei das Almas do Ayê, o Senhor das Almas.
O Trono da Evolução é um dos sete Tronos Essenciais que formam a Coroa Divina Regente do nosso planeta. Na Umbanda, ele projeta a Linha da Evolução, que é regida por Obaluayê (Orixá Masculino e Universal) e Nanã (Orixá Feminino e Cósmico). 
Obaluayê e Nanã são Orixás que cuidam das passagens dos estágios evolutivos de todos os seres e elementos. Dão a sustentação energética Divina para que alcancemos o próximo passo do caminho evolutivo, para a subida dos degraus do caminho da evolução. Eles nos encaminham para dar o passo à frente e deixar para trás o que não serve mais para a nossa vida, despertando em nosso íntimo o desapego, a perseverança, a humildade, a paciência, a sabedoria adquirida com a experiência etc. Por isso, Obaluayê e Nanã regem o Mistério Ancião, dentro do qual trabalham os Pretos Velhos. O Mistério Ancião também está ligado aos Orixás Oxalá e Oyá-Tempo, envolvendo as noções de Espaço-Tempo. Este Mistério de Deus está voltado para a estrutura daqueles que se manifestam como “Velhinhos”- trazendo Sabedoria, Paciência, Experiência, Vivência, ausência de ansiedade diante do tempo e tudo o que representa a libertação pelo conhecimento verdadeiro, um conhecimento adquirido e posto na prática, trazendo a Sabedoria.  O “Velho” (curvado, com o caminhar lento etc.) é o arquétipo daquele que passou pelas eras e se estabilizou no tempo, carregando Conhecimento e Sabedoria. O “Velho” é aquele que nos faz acreditar, que nos emociona e que nos convence porque toca lá dentro da nossa alma. Quem nunca se emocionou diante da Simplicidade, da Humildade e do extremado Amor de um Preto Velho? Quantas vezes “o olhar” de um Preto Velho transformou vidas, trouxe esperança, abrandou corações? Os Pretos Velhos carregam justamente o magnetismo da Sabedoria, da Humildade e da Bondade, com o poder transformador das Energias que lhes são características e que provêm das Irradiações do Sagrado Trono da Evolução.
Evoluir é sair de um nível de consciência e alcançar outro, alcançar outra realidade. Evoluir é fazer uma passagem de uma condição para outra condição melhor. Obaluayê é o Orixá que nos ajuda a fazer a passagem, já que passagem é aqui sinônimo de evolução. O maior simbolismo de passagem é o desencarne, a passagem do mundo material para o mundo espiritual. Logo, o campo santo ou cemitério é um lugar sagrado, é o sítio sagrado de Obaluayê, assim como de Nanã Buroquê e de Omolu. O cemitério é “a casa de Obaluayê”, para onde todos nós iremos um dia. Precisamos aprender a enxergar o cemitério como lugar sagrado, aprender a ver a Presença de Deus e de Obaluayê naquele lugar sagrado que está destinado a receber nossos restos mortais, afastando idéias de medo e temor, que não se justificam mais nos tempos de agora.
Os pontos de força de Pai Obaluayê são o cemitério (a calunga pequena) e o mar, este chamado também de calunga grande (porque nele eram jogados os corpos dos escravos mortos nas viagens forçadas da África para o Novo Mundo).
No processo da reencarnação, é também marcante a Presença de Pai Obaluayê e de Mãe Nanã. A reencarnação é a passagem do ser do plano espiritual para a realidade material.
O Mistério Obaluayê reduz o corpo plasmático do espírito ao tamanho do corpo carnal alojado no útero materno. Nesta redução, o espírito assume todas as características e feições do seu novo corpo carnal, já formado. O Divino Pai Obaluayê estabelece o cordão energético que une o espírito ao corpo (feto). E Mãe Nanã decanta o mental dos espíritos que irão reencarnar, apagando a memória das suas encarnações anteriores, para que possam recomeçar de forma proveitosa.
Obaluayê é associado à Sabedoria, à Maturidade e à Ponderação, bem como aos planetas Saturno e Júpiter.
Seu número é o quatro, que representa: o mundo material; os 4 pontos cardeais; os 4 elementos; o Alto/Embaixo/Direita/Esquerda; o quadrado. Simboliza a concretização do Divino no plano material.
Seu primeiro elemento é a terra e o 2º elemento é a água.
Obaluayê e Nanã são Orixás que atuam magneticamente nos elementos terra e água. Obaluayê é ativo no elemento terra e passivo no elemento água. É um Orixá terra/água. Inversamente, e como seu par complementar, Mãe Nanã é ativa no elemento água e passiva no elemento terra. Ela é um Orixá água/terra.
História
Em algumas regiões da África, os nomes Omolu e Obaluayê são usados indistintamente para designar o grande Orixá relacionado às doenças epidêmicas. Afirma-se que Omolu e Obaluayê são dois estágios do mesmo Orixá: Obaluayê é o Moço, e seu nome significa o "Dono ou Senhor da Terra da Vida"; e Omolu é o Velho, e seu nome significa o "Filho da Terra". Portanto, Omolu seria o filho do Senhor Obaluayê. Nessas tradições, eles são considerados duas qualidades do mesmo Orixá. Já em outras regiões africanas Obaluayê e Omolu são cultuados como na Umbanda, isto é, como Divindades distintas.
São muitos os nomes de Obaluayê, que variam conforme a região. Em Tapá, Ele era conhecido como Xapanã (Sànpònná); entre os povos de língua Fon era chamado de Sapata-Ainon (“Dono da Terra”); já os Yorubás o chamavam Obaluayê e Omolu.
Pierre Verger, no livro “Orixás”, nos fala que Obalúayé ("Rei Dono da Terra") ou Omolu ("Filho do Senhor") são os nomes geralmente dados a Sànpònná, deus da varíola e das doenças contagiosas. Na África, seu nome é perigoso de ser pronunciado porque se acredita que ele pune os malfeitores e insolentes enviando-lhes a varíola.
Verger comenta relatos de que haveria dois Xapanã: Sànpònná-Airo, o de origem Tapá; e o outro, que teria vindo do Daomé para Oyó, chamado Sànpònná-Boku, nome que o aproxima de Nanã Buruku e que também revelaria os laços existentes entre Obaluayê e Nanã Buruku. 
Pierre Verger acrescenta que existe muita confusão a respeito de Sànpònná Obalúayé, Omolu e Molu, pois em alguns lugares eles se misturam, enquanto em outros são considerados deuses distintos. E Nanã Buruku é também confundida com eles. Em algumas regiões há um sincretismo entre duas divindades: Sànpònná- Obalúayé, que veio do leste (onde Nanã é Nàná-Buruku) e Omolu-Molu (vindo do oeste, onde Nanã é Nàná-Brukung). Essas duas divindades se juntaram e tomaram o caráter único de Kêto. Outra hipótese: seria uma divindade única, trazida por migrações leste-oeste (como as dos Ga, que foram de Benim para região de Accra, durante o reino de Udagbede, no fim do século XII), e que depois foi levada para seu lugar de origem com um novo nome que, inicialmente, era apenas um epíteto.
Verger também narra que há indícios de que o culto a Obaluayê e a Nanã Buruku faz parte de sistemas religiosos pré-Odùduà, porque ambos não constam da lista dos companheiros de Odùduà quando este chegou a Ifé. Lendas dizem que Obaluayê já estava instalado em Òkè Itase antes da chegada de Orunmilá (que veio no grupo deOdùduà).
Sabe-se que os cultos a Obaluayê e a Nanã são muito antigos porque no ritual de sacrifício de animais em sua homenagem não se usavam instrumentos de ferro; o que mostra que essas Divindades pertenciam a uma civilização anterior à Idade do Ferro e à chegada de Ogum (que veio com Odùduà). Inclusive algumas lendas falam de suas disputas contra Ogum: Obaluayê e Nanã não reconheciam que Ogum fosse mais antigo e tivesse primazia sobre eles e, em conseqüência, não aceitavam servir-se do ferro em suas atividades. Daí o uso de facas de madeira para o sacrifício de animais em honra a ambos.  Segundo Pierre Verger, essa “disputa entre Divindades” poderia ser interpretada como o choque de religiões de civilizações diferentes, sucessivamente instaladas no mesmo lugar e datando de períodos respectivamente anteriores e posteriores à Idade do Ferro. Poderia também ser conseqüência da diferença de origem desses povos, pois alguns vieram do leste (com Odùduà) e outros vieram do oeste (antes de Odùduà).
Entre os Djejes ou Gêges (povo de língua Fon), Xapanã era cultuado como o Vodun Sapata. Seu culto se difundiu na região Mahi, na aldeia chamada Pingini Vedji, perto de Dassa Zumê, porém trazido pelos Nagôs. Isso é confirmado em Savalu, também na região Mahi, onde Sapata Agbosu do bairro Bla, chefe dos sapatas da região, foi trazido ao templo de Ahosu Soha (o conquistador do lugar que foi o ponto terminal de seu movimento migratório para o norte, fugindo das regiões destruídas pelas campanhas dos reis de Abomey contra seu vizinhos do leste). Durante seu percurso, Ahosu Soha encontrou em Damê, no rio Weme, os Kadjanu, Nagôs originários da região do Egbadô. Estes Nagôs se dirigiam também para o norte e se juntaram a Ahosu Soha, para se estabelecerem em Savalu, com seu deus Agbosu.
A origem Nagô-Yorubá do Vodum Sapata é revelada por dois fatos: durante sua iniciação, as pessoas dedicadas a Sapata (os sapatasi) são chamadas de ànàgonu (anago ou nagô); e a língua usada no ritual de iniciação e nas orações é o yorubá primitivo, ainda falado diariamente pelos Aná.
As proibições (“quizilas”) em relação a Sapata são o agbalín (antílope), a galinha de angola (sonu), o carneiro e um peixe chamado sosogulo, cujas espinhas são atravessadas. As oferendas indicadas são os cabritos, galos, feijão e inhame.
O culto de Sapata-Ainon, em Abomey, passou por altos e baixos e por disputas com a dinastia dos Aladahonu, reis do Daomé, que usavam alguns dos títulos gloriosos de Sapata, tais como: Ainon ("Senhor da Terra") ou Jehosu ("Rei das Pérolas"). Os Sapatanon, chefes desse culto, foram várias vezes expulsos do reino de Abomey.
Pesquisas feitas entre os povos de língua Fon, a respeito do Vodun Sapata-Ainon, ajudam a compreender as relações de Sànpònná-Obalúayé (o "Rei Dono da Terra", para os yorubás) com Nanã Buruku, que no Brasil é considerada sua mãe. Em Abomey, conta-se que Nàná Bùkùú (ou Buruku) era mãe de um casal: Kohosu e sua mulher Nyohwe Ananu, que são os pais de todos os sapata, senhores de muitas doenças temíveis.
Obaluayê é o Médico dos pobres e o Senhor dos cemitérios. Usa o azê (capacete de palha da costa) ou o filah (capuz de palha da costa) e carrega na mão o xaxará (feixe de fibra de palmeira, enfeitado com búzios).
Seu dia é a segunda-feira.
Sua comida de axé é o doburu ou deburu, feito com pipocas sem sal, cobertas com fatias bem finas de coco e regadas com mel.
A pipoca representa o axé de Obaluayê, porque ela é “o milho que evoluiu ao se permitir transformar pela ação do fogo”. Fazendo uma comparação: quando nós aceitamos nos transformar perante as dificuldades, então conseguimos evoluir, sob o amparo de Obaluayê. E o milho que não estoura? Este é chamado de piruá, sendo comparado aos seres “de cabeça dura”, de mente fechada, que não aceitam transformar-se diante dos desafios da vida e resistem em se preparar para isso... Costuma-se dizer que as pipocas são “as flores” deste Sagrado Orixá.
Diz uma lenda que Obaluayê nasceu com o corpo coberto de chagas e foi abandonado pela mãe, Nanã Buruku, na beira da praia. Um caranguejo provocou graves ferimentos em sua pele. Yemanjá encontrou aquela criança, criou-a com todo amor e carinho e curou suas feridas com folhas de bananeira. Por isso, o caranguejo e a banana prata tornaram-se os maiores ewò de Obaluayê, dentro do Culto de Nação. Mais tarde, Obaluayê tornou-se um grande guerreiro e hábil caçador, que se cobria com palha da costa (ikó) não para esconder as marcas de sua doença, como muitos pensam, mas porque se tornou um ser de brilho tão intenso quanto o próprio Sol.
Essa imagem singela, no entanto belíssima de conteúdo, nos faz pensar sobre o Poder
Transmutador de Pai Obaluayê, que transforma “chagas em Sol reluzente”...
O capuz de palha da costa (azé) cobre o rosto de Obaluayê para que os seres humanos não o olhem de frente (já que olhar diretamente para o próprio Sol pode prejudicar a visão). Sua história explica a origem dessa roupa enigmática, que possui um significado profundo, relacionado à vida e à morte. Dentro da tradição africana, o azê guarda mistérios: indica a existência de algo que deve ficar em segredo, algo que só os iniciados no mistério podem saber. Desvendar o azê, a temível máscara de Obaluayê-Omulu, seria o mesmo que desvendar os mistérios da morte, pois Omulu venceu a morte. Embaixo da palha da costa, Obaluayê guarda os segredos da morte e do renascimento, que só podem ser compartilhados entre os iniciados.
Obaluayê-Omolu está relacionado com a morte pelo fato de ser Ele a terra que proporciona os mecanismos indispensáveis para a manutenção da vida. O homem nasce, cresce, desenvolve-se, torna-se forte diante do mundo, mas continua frágil diante de Obaluayê-Omolu, que pode devorá-lo a qualquer momento, pois Ele é a terra que vai consumir o corpo do homem por ocasião de sua morte. Por isso é que se diz que Omolu-Obaluayê “mata e come gente”.

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