Linha dos Pretos Velhos -


preto velho1
Os Pretos e Pretas Velhas, na Umbanda, são entidades elevadas que se apresentam estereotipados como anciãos negros conhecedores profundos da magia Divina, da manipulação de ervas. São excelente mandingueiros, mestres dos elementos da natureza, os quais utilizam em seus benzimentos e trabalhos espirituais.
Crê-se que em referência à dor e aflição sofrida pelo povo negro durante a escravidão, a linha de preto velho reflita a humildade, a sabedoria, a paciência e a perseverança. Não necessariamente todos foram escravos. Sua sabedoria e humildade são caracteristicas marcantes e sua calma e ensinamentos são profundos. Apresentam-se na Umbanda sentados em seus banquinhos atendendo seus “fios e fias” com uma linguagem simples porém sábias. A caracteristica principal desta linha é a sua elevada orientação espiritual.
Àqueles que os procuram oferecem conselhos, orientação espiritual; receitam tratamentos caseiros, banhos de ervas, chás, entre outros, para os males do corpo e do espirito
Utilizam vários elementos nos seus trabalhos como o cachimbo, cigarros de palha (que usam como defumadores, para limpeza espiritual) e ervas.
A Linha de Pretos velhos na Umbanda é regida pelo mistério Ancião, na força do Orixá Obaluaê que é o Orixa sustentador da evolução, da transmutação e transformação dos seres. Mas os Pretos Velhos também se apresentam dentro da linha de outros Orixás.
Em sua linha de atuação eles se apresentam com nomes que individualizam sua atuação, conforme o seu Orixá regente, conforme acontecia na época da escravidão, onde os negros eram nominados de acordo com a região de onde vieram, por exemplo:
  • Congo - (Pai Francisco do Congo), refere-se a pretos velhos ativos na linha de Iansã;
  • Aruanda - (Pai Francisco de Aruanda), refere-se a pretos velhos ativos na linha de Oxalá. (Aruanda quer dizer céu);
  • D´Angola - (Pai Francisco D´Angola), refere-se a pretos velhos ativos na linha de Ogum;
  • Matas - (Pai Francisco das Matas), refere-se a pretos velhos ativos na linha de Oxóssi;
  • Calunga, Cemitério ou das Almas - (Pai Francisco da Calunga, Pai Francisco do Cemitério ou Pai Francisco das Almas), refere-se a pretos velhos ativos na linha de Omolu/ Obaluayê;
Os nomes mais comuns com que se apresentam são: Pai João, Pai Joaquim, Pai Benedido, Pai José De Angola, Vovó Maria, Vovó Maria D´Angola, Vovó Maria Conga, Vovó Catarina, Vovó Benedita, entre outros.

DIA DA SEMANA: Segunda-feira
LINHAS DE TRABALHO: Evolução, transmutação e transformação.
COR: Preto e Branco.
ELEMENTOS DE TRABALHO:
- Ervas (alecrim, arruda, guiné, manjericão, boldo, folha de fumo, louro, manjerona, sálvia, quebra demanda, levante);
- Palha da costa, Cruzes de madeira, pipocas, pembra branca, terços de lágrimas de Nossa senhora.
- Fumo;
PEDRAS: Turmalinas negras, cristal, ônix branco ou preto e quartzo branco.
COMIDAS:
  • Bolo de milho, pamonha, cural.
  • Pipoca;
  • Bolo de fubá;
  • Tutu de feijão;
  • Mandioca frita;
  • Batata doce;
  • Doce de abóbora;
  • Rapadura.
BEBIDAS
  • Café sem açucar;
  • Aguardente
FRUTAS: Coco seco, uva italia, melão, pêra, pinha.
FLORES: Crisântemo branco, rosa branca, margarida, azaléia branca.
VELAS:  Branca; branca e preta; roxo, lilás, violeta.



Preto velho na Cultura Brasileira e na Umbanda
Por Alexandre Cumino

Pai Antonio foi o primeiro preto-velho a se manifestar na Religião de Um­banda em seu médium Zélio Fer­nandino de Morais onde se esta­be­leceu a Tenda Nossa Senhora da Pie­dade. Assim, ele abriu esta “linha” pa­ra nossa religião, introduzindo o uso do cachimbo, guias e o culto aos Orixás.

O “Preto-velho” está ligado à cul­tura religiosa Afro Brasileira em geral e à Umbanda de forma especí­fica, pois den­tro da Religião Umban­dista este termo identifica um dos elementos for­madores de sua litur­gia, representa uma “linha de tra­balho”, uma “falange de espíritos”, to­do um grupo de mentores espi­ri­tuais que se apresentam como ne­gros anciões, ex-escravos, conhe­ce­­dores dos Orixás Africanos.

São trabalhadores da espiritua­lidade, com características próprias e cole­tivas, que valorizam o grupo em detri­mento do ego pessoal, ou seja, são simplesmente pretos e pretas velhas com Pai João e Vó Maria, por exem­plo.
Milha­res de Pais João e de Avós Maria, o que mostra um trabalho desper­sonalizado do elemento indivi­dual valorizando o elemento coletivo identificado pelo ter­mo genérico “preto-velho”. Muitos até dizem “nem tão preto e nem tão velho” ainda assim “preto velho fulano de tal”.  A falta de informa­ção é a mãe do precon­ceito, e, no caso do “preto-ve­lho”, muitos que são leigos da cultura religiosa Umbandista ou de origem africana desconhecem  valor do “preto-velho” dentro das mes­mas.

Preto é Cor e Ne­gro é Raça, logo o ter­mo “preto-velho” tor­na-se caracte­rís­tico e com sentido ape­nas dentro de um con­texto, já que fora de tal contexto o termo de uso amplo e irres­trito seria “Negro Vel­ho”, “Negro An­cião” ou ainda “Ne­gro de idade avan­çada” para iden­ti­fi­car o ho­mem da ra­ça ne­gra que encon­tra-se já na “terceira idade” (a melhor ida­de). Por conta disso alguns sentem-se des­con­for­táveis em utilizar um ter­mo que à primeira vista pode parecer des­respei­toso ao citar um amável senhor negro, já com suas madeixas bran­cas, cachimbo e sorriso fácil, por trás do olhar de homem sofri­do, que na humildade da subju­gação forçada e escrava encontrou a liberdade do espí­rito sobre a alma, através da sabedoria vinda da Mãe África, na figura de nossos Orixás, vindo de encontro à imagem e resignação de nosso senhor Jesus Cristo.

Alguns preferem chamá-los ape­nas de “Pais Velhos” o que é bonito ao ressaltar a paternidade, mas ao mesmo tempo oculta a raça que no caso é motivo de orgulho. São eles que sou­be­ram passar por uma vida de escravidão com honra e nobreza de caráter, mais um motivo de or­gulho em se auto-afirmar “nêgo véio” e ex-escravo; talvez as­sim se man­tenham para que nunca nos esque­çamos que em qualquer situa­ção temos ainda opor­tunidade de evo­luir. Quanto mais adver­sa maior a oportu­nidade de dar o testemunho de nos­sa fé.

O “preto-ve­lho” é um ícone da Umban­da, resu­min­do em si boa parte da filosofia um­ban­dista. Assim, os es­pí­ritos desen­car­­nados de ex-es­cravos se iden­ti­fi­cam e muitos ou­tros que não foram escra­vos, nesta con­dição, as­sim se apre­sentam tam­bém em home­nagem a eles, por tê-los como Mes­tres no astral.

No imaginário po­pular, por falta de informação ou por má fé de al­guns formadores de opinião, a ima­gem do “preto-velho” pode estar asso­ciada por alguns a uma visão preconceituosa, há ainda os que se assustam “com estas coisas” pois não sabem que a Um­banda é uma religião e como tal tem a única proposta de nos religar a Deus, mani­festando o espírito para a caridade e de­senvol­vendo o senti­mento de amor ao pró­ximo.  Não existe uma Umbanda “boa” e uma Umbanda “ruim”, existe sim única e exclusi­vamente uma única Umbanda que faz o bem, caso con­trário não é Umbanda e assim é com os “Preto-velhos”, todos fazem o bem sem olhar a quem, caso con­trário não é de fato um “preto-velho”, pode ser alguém disfarçado de “velho-negro”, o “preto velho” tra­balha única e exclusivamente para a caridade es­piritual.

São espíritos que se apresentam des­ta forma e que sabem que em essência não temos raça nem cor, a cada encarnação, temos uma expe­riên­cia diferente. Os pretos velhos trazem consigo o “mistério ancião”, pois não bas­ta ter a forma de um velho, antes, precisam ser espíritos amadurecidos e reconhecidos como irmãos mais velhos na senda evo­lutiva.

Quanto menos valor se dá a for­ma, mais valor se dá à mensagem, e “preto-velho” fala devagar, bem bai­xinho; quando assim se pronun­cia, to­dos se aquietam para ouví-lo, parece-nos ouvir na língua Yorubá a pa­la­vra “Atotô”, saudação a Oba­luayê que quer dizer exatamente isso: “silêncio”.

Nas culturas antigas o “velho” era sempre respeitado e ouvido co­mo fonte viva do conhecimento an­ces­tral. Hoje ainda vemos este cos­tume nas culturas indígenas e ciga­nas. Algumas tradições religiosas man­têm esta postura frente o sacer­dote mais velho, trata-se de uma he­rança cultural religiosa tão antiga quan­to nossa memória ou nossa his­tória pode ir buscar, tão antigos também são alguns dos pretos velhos que se manifestam na Umbanda.
Muitos já estão fora do ciclo reen­carnacionista, estão libertos do karma, já desvendaram o manto da ilu­são da car­ne que nos cobre com paixões e ape­gos que inexora­vel­mente ficarão para trás no caminho evolutivo.
Por tudo isso e muito mais, no dia 13 de Maio, dia da libertação dos es­cravos eu os saúdo: “Salve os Pre­tos Velhos! Sal­ve as Pretas Velhas! Adorei as Almas! Sal­ve nosso Amado Pai Obaluayê, Atotô meu Pai! Salve nossa Amada Mãe Nanã Buroquê, Saluba Nana!”
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