NANÃ
Nanã é a Divindade que está assentada no pólo negativo (ou absorvedor) da Linha da Evolução, que é a sexta Linha de Umbanda, na qual polariza com Pai Obaluayê.
Seu campo preferencial de atuação é o emocional dos seres desequilibrados que, ao receberem suas Irradiações, se aquietam; e podem ter suas evoluções paralisadas, se necessário, até passarem por uma decantação completa de seus vícios e desequilíbrios mentais.
As Irradiações de Mãe Nanã contêm duas Qualidades Divinas que nos induzem a evoluir:a maleabilidade e a decantação. Através delas, Nanã transmuta as energias negativas e paralisantes geradas por conceitos negativos e errôneos que os seres desenvolvem a respeito das coisas Divinas (sentimentos, pensamentos, emoções, atos etc.), de modo a reequilibrá-los e então reconduzi-los a um caminho de evolução. Nanã manifesta essas duas Qualidades ao mesmo tempo e por isso dizemos que é um Orixá Cósmico dual.
A primeira Qualidade de Nanã (maleabilidade) vai desfazendo o que está paralisado ou petrificado nos seres, dando-lhes maleabilidade. Quanto o ser estaciona num padrão vibratório negativo (pensamentos, sentimentos, crenças e emoções), insistindo em condutas igualmente negativas, ele se petrifica, fica impermeável às sugestões do Bem. Neste caso, ele será atraído para o campo de Mãe Nanã, para readquirir maleabilidade.
E a segunda Qualidade de Mãe Nanã (decantação) vai decantando os seres dos seus vícios, desequilíbrios e negativismos, fazendo uma espécie de filtragem dessas energias desequilibradas.
Isso acontece porque Ela é um Orixá “água-terra”. O seu primeiro elemento de atuação é a água e o segundo é a terra. O elemento água dá maleabilidade ao que estava endurecido (“amolece”, torna permeável, permite adquirir e absorver outros valores). Então, a terra se junta à água, formando “um barro” que absorve os negativismos decantados. Isto gera condições para dar estabilidade àquilo que ficou de positivo após a decantação. E uma vez que “o positivo” foi estabilizado no ser, ele poderá recomeçar sua evolução.
Mãe Nanã atua por atração magnética sobre os seres cuja evolução está paralisada e cujo emocional está desequilibrado. Ela os atrai magneticamente, para operar o processo de: a) dar maleabilidade àqueles seres- quebrando seus vícios e desfazendo suas resistências e negatividades; também “amolecendo” e dissolvendo os medos ou bloqueios inexplicáveis, de fundo inconsciente, e as memórias traumáticas do ser; b) decantar todo esse negativismo- que vai se soltando, e vai se depositar no fundo “do barro” (encontro dos elementos água e terra, que constituem Seus domínios); c) e, finalmente, dar estabilidade ao que ficou de positivo em todo este processo, para que o ser retome sua evolução de forma equilibrada, aqui o entregando aos domínios de Obaluayê.
Em todas as situações, temos duas opções básicas: a) decidir trilhar o caminho do Bem, respeitando a Ordem Divina; caso em que os Orixás Universais (irradiantes, positivos) irão “nos puxar para cima”, potencializando os pontos fortes que já desenvolvemos e, através deles, nos ajudando a evoluir e vencer nossas dificuldades. Neste caso, os Orixás Cósmicos nos darão amparo também, protegendo-nos de ataques externos, magias negativas etc., uma vez que são os pares complementares dos Universais; b) ou estacionar num caminho negativo; caso em que os Orixás Cósmicos (absorvedores, negativos) irão nos atrair diretamente para os seus campos absorvedores de atuação, ali esgotando nosso negativismo, até recuperarmos o equilíbrio e voltarmos ao amparo dos Universais.
Isso explica as diferentes atuações de Pai Obaluayê (Universal) e de Mãe Nanã (Cósmica), que se complementam, na Linha da Evolução. Nanã faz com que os seres retomem sua evolução, decantando-os de todo o negativismo, afixando-os no seu “barro” (água + terra) e deixando-os prontos para a atuação de Obaluayê, que os irá remodelar e estabilizar, para colocá-los novamente em movimento numa senda evolutiva.
A Energia de Nanã é Decantadora por excelência. Seu Fator Puro é o Decantador, que nos faz evoluir. Então, o outro Fator de Nanã é o Evolutivo (Fator Misto).
Os lagos, mangues e os grandes rios que correm tranquilamente são Pontos de Força de Mãe Nanã. Vamos pensar num lago. Um lago tem a superfície calma, de águas tranquilas, que parecem estar paradas. Mas ele puxa para o fundo qualquer coisa que nele seja atirada, ele decanta silenciosamente. Assim é a Energia de Nanã, a Mais Velha das Mães das Águas. Diferente de Mãe Oxum, simbolizada pelas cachoeiras, que são rápidas e representam a Energia da Mãe Jovem.
Diferente também de Yemanjá, a Grande Mãe, simbolizada pela imensidão do mar. Todas Elas lidam com as nossas emoções, porque a água está relacionada ao emocional. E Nanã representa a calmaria, a decantação das nossas emoções e sentimentos; motivo pelo qual Ela também pode nos curar, já que muitas doenças têm forte cunho emocional (raiva, inquietação, impaciência, ansiedade, nervosismo, ciúme, inveja etc.). Decantando nossos vícios e desequilíbrios emocionais e mentais, Nanã nos acalma e nos transforma. Transformados interiormente, entramos no caminho da cura. Em outras palavras: evoluímos.
Como portadora dessas Qualidades, Nanã também é o Mistério de DEUS que atua sobre o espírito que vai reencarnar.
No processo da reencarnação, o Orixá Nanã dilui todos os acúmulos energéticos daquele ser e decanta todos os seus sentimentos, mágoas e conceitos. Em consequência, Ela adormece (“apaga”) a memória daquele espírito. E quando o espírito adormece em sua memória, entra a atuação de Pai Obaluayê, que é o Regente desse Mistério, para reduzi-lo ao tamanho do feto que está no útero da mãe, aonde o espírito irá se alojar para renascer; e, ao renascer, não se lembrará de nada do que vivenciou anteriormente.
Portanto, um dos campos de atuação de Nanã é a “memória” dos seres. E, se Oxóssi aguça o raciocínio, Ela adormece os conhecimentos do espírito, para que não interfiram com o destino traçado para a sua nova encarnação. É por isso que Nanã é associada à senilidade, à velhice, período no qual a pessoa começa a se esquecer de coisas que vivenciou na atual encarnação.
Mãe Nanã rege também sobre a maturidade. Em outra linha da vida, encontramos
sua atuação na menopausa. No inicio desta linha está Oxum, estimulando a sexualidade feminina; no meio está Yemanjá, estimulando a maternidade; e no fim está Nanã, paralisando tanto a sexualidade quanto a geração de filhos. Mas esta paralisação nada tem de negativo, pois faz parte do processo natural da vida e ainda facilita a canalização daquelas energias (antes concentradas na função procriadora) para outros campos e horizontes.
Nanã, em seus aspectos positivos, forma pares com os outros treze Orixás, sem nunca perder suas qualidades “água-terra”. Ela favorece a Evolução em todos os Sentidos da vida.
Nanã é “a mais velha das Mães”, é nosso aconchego, é a experiência, a sabedoria, a paciência, é nossa Divina “Avozinha”. Daí o seu sincretismo com Nossa Senhora de Santana, a santa católica que foi a avó de Jesus.
Mãe Nanã é associada aos planetas Saturno e Vênus e também aos números 06 e 13.
História
Origens do Orixá Nanã. Suas características na África e nas religiões derivadas
Na tradição africana, o Orixá Nanã é reverenciado como Nàná Burúkú (ou Buruquê) e representa o ponto de contato da terra com as águas. É a Divindade Suprema que, junto com Zâmbi, fez parte da Criação: é a responsável pelo elemento barro, que emprestou a Oxalá para que este moldasse o primeiro homem e todos os seres viventes da Terra. Com a junção de água e terra surgiu o barro.
Com o Sopro Divino, o barro representa movimento. O movimento adquire estrutura. Do movimento e da estrutura surgiu a Criação, o Homem.
No Candomblé, afirma-se que Nanã é um Orixá feminino de origem daomeana, que foi incorporado pela mitologia Iorubá, há séculos, quando o povo Nagô conquistou o Daomé (atual República do Benin), assimilando sua cultura e incorporando algumas Divindades dos povos dominados.
Nesse processo de encontro de culturas, Oxalá (mito Nagô-Iorubá) continua sendo o pai de quase todos os Orixás. Yemanjá (mito Nagô-Iorubá) é a mãe dos Nagôs. E Nanã (mito Jêje) assume a figura de mãe dos filhos do Daomé; enquanto Oxalá permanece como pai, também, dos daomeanos (embora não fizesse parte da sua mitologia primitiva). Os mitos daomeanos eram mais antigos que os Nagôs, pois vinham de uma cultura que se mostra anterior à descoberta do fogo. Então, tentou-se acertar essa cronologia colocando-se Nanã e o nascimento de seus filhos como sendo fatos anteriores ao encontro de Oxalá e Yemanjá. Neste contexto, Nanã é a primeira esposa de Oxalá, tendo com ele três filhos: Iroco (ou Tempo), Omolu (ou Obaluayê) e Oxumarê.
Senhora de muitos búzios, Nanã sintetiza, em si, morte, fecundidade e riqueza. É associada à fecundidade e à prosperidade porque a Ela se pedem filhos; lembrando-se que nas antigas sociedades tribais ter muitos filhos era sinônimo de riqueza (capacidade de sustentá-los) e também de se perpetuar o nome daquele clã.
Para os Jêje, da região do antigo Daomé, seu nome significa “mãe, mãezinha”. Nessa região, Nanã é considerada a Divindade suprema. Talvez por isso, frequentemente é descrita como um Orixá masculino.
Sendo a mais antiga das Divindades das águas, Nanã representa a memória ancestral do Povo de Santo: é a mãe antiga (Iyá Agbà) por excelência. É mãe dos Orixás Iroko, Obaluayê e Oxumaré. E por ser a deusa mais velha do Candomblé, é respeitada como mãe por todos os outros Orixás.
A vida está cercada de mistérios que, ao longo da História, atormentam o ser humano. Ainda na Pré-História, quando o homem se viu diante do mistério da morte, no seu âmago irrompeu uma angústia. Os mitos aliviavam essa dor e a razão apontava para aquilo que era certo no seu destino. A morte desperta no homem os primeiros sentimentos religiosos; e nessse momento Nanã se fez compreender: porque é na morte, condição para o renascimento e para a fecundidade, que se encontram os mistérios de Nanã. Nos primórdios da História, os mortos eram enterrados em posição fetal; o que remetia a uma idéia de nascimento ou renascimento. O homem primitivo entendeu que a morte e a vida caminham juntas, entendeu os mistérios de Nanã. Pois Nanã é o princípio, o meio e o fim; é o nascimento, a vida e a morte; é a origem e o poder. Entender Nanã é entender o destino, a vida e a trajetória do homem sobre a Terra. Nanã é água parada, água da vida e da morte. Ela é o começo, porque Nanã é o barro e o barro é a vida. Nanã é a dona do axé, por ser o Orixá que dá a vida e a sobrevivência, é a Senhora dos ibás, que permite o nascimento dos deuses e dos homens.
No Candomblé se diz: “Nanã pode ser a lembrança angustiante da morte, mas apenas para aqueles que encaram esse final como algo negativo. Nanã, a mãe maior, é a luz que nos guia, é o nosso quotidiano. Conhecer a própria vida e o próprio destino é conhecer Nanã, pois os fundamentos dos Orixás e do Candomblé estão ligados à vida. A nossa vida é o nosso Orixá”. Conceito belíssimo...
Considerada a mais velha Divindade do panteão africano, Nanã está associada às águas paradas, à lama dos pântanos, ao lodo do fundo dos rios e dos mares. Ela e Obaluayê foram os únicos Orixás que não reconheceram a soberania de Ogum como dono dos metais, justamente por serem mais antigos que ele. Segundo pesquisas de Pierre Verger, há indícios de que Nanã e Obaluayê eram cultuados desde antes da Idade do Ferro; e esta é a razão de não se utilizar instrumentos de ferro nas suas oferendas.
O símbolo de Nanã é o Ibirí, um cajado de fibras da folha da palmeira de dendê, que tem a ponta curvada e uma tira de couro enfeitada com búzios.
Em algumas terras da África, Nanã é chamada de Iniê e seus assentamentos (objetos sagrados) são salpicados de vermelho.
Ela é a chuva, a garoa. Por isso, o banho de chuva é uma homenagem que se faz a Nanã, lavando-se o corpo no seu elemento.
Nanã é tanto reverenciada como sendo a Divindade da vida, como da morte. Na África antiga, acreditava-se que entre o mundo dos vivos e o dos mortos existe uma passagem, cuja regente é Nanã, Senhora da Morte, geradora de Iku (a Morte). Por isso, Nanã é a mais temida de todos os Orixás.
Nanã é o encantamento da própria morte. Os cânticos em sua homenagem são súplicas para que leve Iku (a Morte) para longe, de modo que a vida seja mantida.
Ela é a Senhora da passagem desta vida para outra; reconduzindo ao Astral as almas que Oxum colocou no mundo material. É a deusa e guardiã do reino da morte, possibilitando o acesso a esse território do desconhecido. Assim, no Culto de Nação e no Candomblé, Nanã é cercada de muitos mistérios e tratada com menos familiaridade do que os Orixás mais extrovertidos (como Ogum e Xangô, por exemplos), sendo considerada uma figura austera, justiceira e absolutamente incapaz de uma brincadeira ou de alguma forma de explosão emocional. Jurar por Nanã, por parte de alguém do Culto, implica um compromisso muito sério e inquebrantável, pois este Orixá exige de seus filhos a mesma relação austera que mantém com o mundo. Acredita-se que muitos são os mistérios que Nanã esconde: ela é a terra fofa que recebe os cadáveres, que os acalenta e esquenta, numa repetição do que ocorre na vida intra-uterina; através dela, os mortos são modificados para poderem nascer novamente.
Esta relação de Nanã com a morte e o culto dos Egunguns (espíritos dos mortos) é talvez o motivo de Ela estar associada ao número 13 (tradicionalmente ligado às almas dos mortos), dentro do Culto de Nação e do Candomblé.
Desde suas origens na África, Nanã é reverenciada como o grande Orixá que tem o domínio sobre as enchentes e as chuvas, bem como sobre o lodo produzido por essas águas. Ela também é a mãe e avó, a protetora dos homens e dos idosos, a padroeira da família. Daí, talvez, a sua ligação com o número seis, este relacionado à família.
Nenhum comentário:
Postar um comentário